quarta-feira, 31 de março de 2010

Um livro espera por ti, encontra-o: DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL 2010

Noemí Villamuza (ilustradora)

UM LIVRO ESPERA POR TI

Era uma vez
Um barco, um barquinho
Que não sabia
Que não podia
Navegar

Ao fim de um, de duas, de três,
De quatro, de cinco, de seis semanas
Este barquinho
Este barquinho
Avançou pela água fora.

Aprendemos a brincar, antes de aprender a ler. E a cantar. As crianças do meu país cantavam esta canção quando ainda nenhum de nós sabia ler. Fazíamos uma roda na rua e, em concorrência com os grilos de verão, cantávamos sem parar a impotência do barquinho que não sabia navegar.

Às vezes, construíamos barquinhos de papel e metíamo-los nas poças de água e os barquinhos iam ao fundo sem conseguirem chegar a nenhuma das margens.

Eu também era um barquinho ancorado nas ruas do meu bairro. Passava os serões numa esplanada a ver o sol desaparecer no horizonte e pressentia ao longe - não sabia nessa altura se era longe de onde estava ou longe do coração - um mundo maravilhoso que se estendia mais longe do que a minha vista podia alcançar.

Atrás das caixas, num armário da minha casa, também havia um livro pequenino que não podia navegar porque ninguém o lia. Quantas vezes passei ao lado dele sem me aperceber da sua existência. O barco de papel, encalhado na lama, o livro solitário, escondido na prateleira, atrás das caixas de cartão.

Um dia, a minha mão, que procurava qualquer coisa, tocou nas costas do livro. Se eu fosse livro, contaria o que aconteceu da seguinte maneira: «Um dia, a mão de uma criança fez uma festinha na minha capa e eu senti que desdobrava as minhas velas e que eu começava a navegar».

Que surpresa quando os meus olhos viram, à frente deles, este objeto! Era um livrinho de capa vermelha com filigranas douradas. Abri-o cheio de expetativas como se tivesse encontrado um tesouro e desejasse ardentemente saber o que havia dentro dele. E foi de fato algo muito importante. Mal comecei a leitura, percebi que a aventura estava ali: a coragem do herói, as personagens cheias de bondade, os maus, as ilustrações com as frases no fim da página que eu observava vezes sem conta, o perigo, as surpresas... tudo me transportava para um mundo apaixonante e desconhecido.

Desta maneira descobri que longe da minha casa havia um rio, e depois do rio havia o mar e no mar, à espera de soltar a âncora, estava um barco. O primeiro barco em que embarquei chamava-se Hispaniola, também podia ter-se chamado Nautilus, Rossinante, o barco de Sinbad, o barco a vapor de Huckleberry... todos eles, mesmo se o tempo continua a passar, esperarão sempre que os olhos de uma criança desdobre as suas velas e os faça soltar a âncora.

Então... não esperes, estende a mão, pega num livro, abre-o, lê: descobrirás, como na canção da minha infância, que não há nenhum barco, mesmo o mais pequeno, que não seja capaz de aprender a navegar em pouco tempo.

Texto de Eliacer Cansino (traduzido por IC)

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